22 de nov. de 2018

Papa Francisco sobre o sexto mandamento



Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal (Canção Nova)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No nosso itinerário de catequeses sobre os Mandamentos, chegamos hoje à Sexta Palavra, que diz respeito à dimensão afetiva e sexual, e diz: “não cometerás adultério”.

O chamado imediato é à fidelidade, e de fato nenhuma relação humana é autêntica sem fidelidade e lealdade.


Não se pode amar somente até que “convenha”; o amor se manifesta justamente além do limiar do próprio interesse, quando se doa todo sem reservas. Como afirma o Catecismo: “O amor quer ser definitivo. Não pode ser ‘até nova ordem’” (n. 1646). A fidelidade é a característica da relação humana livre, madura, responsável. Também um amigo se demonstra autêntico porque permanece assim em todas as circunstâncias, do contrário não é um amigo. Cristo revela o amor autêntico, Ele que vive do amor ilimitado do Pai, e em força disso é o Amigo fiel que nos acolhe também quando erramos e quer sempre o nosso bem, também quando não merecemos.

O ser humano precisa ser amado sem condições, e quem não recebe este acolhimento leva em si uma certa incompletude, muitas vezes sem sabê-lo. O coração humano procura encher esse vazio com substitutos, aceitando compromissos e mediocridades que de amor têm somente um vago sabor. O risco é aquele de chamar “amor” as relações imaturas, com a ilusão de encontrar luz de vida em algo que, no melhor dos casos, é somente um reflexo disso.

Assim acontece de superestimar, por exemplo, a atração física, que em si é um dom de Deus, mas é destinada a preparar o caminho para uma relação autêntica e fiel com a pessoa. Como dizia São João Paulo II, o ser humano “é chamado à plena e madura espontaneidade das relações”, que “é o gradual fruto do discernimento dos impulsos do próprio coração”. É algo que se conquista, do momento em que cada ser humano “deve com perseverança e coerência aprender o que é o significado do corpo” (cfr Catequeses, 12 de novembro de 1980).

O chamado à vida conjugal requer, portanto, um atento discernimento sobre qualidade da relação e um tempo de noivado para verificá-la. Para aproximar-se do Sacramento do Matrimônio, os noivos precisam amadurecer a certeza de que em sua relação há a mão de Deus, que os precede e os acompanha, e permitirá a eles dizer: “Com a graça de Cristo te prometo ser fiel sempre”. Não podem prometer fidelidade “na alegria e na dor, na saúde e na doença”, e de amar-se e honrar-se todos os dias da sua vida, somente na base da boa vontade ou da esperança que “a coisa funcione”. Precisam basear-se no terreno sólido do amor fiel de Deus. E para isso, antes de receber o Sacramento do Matrimônio, é preciso uma atenta preparação, diria um catecumenato, porque se joga toda a vida no amor, e com o amor não se brinca. Não se pode definir “preparação ao matrimônio” três ou quatro conferências dadas na paróquia; não, esta não é preparação: isto é fingir preparação. E a responsabilidade de quem faz isso cai sobre ele: sobre o pároco, sobre o bispo que permite essas coisas. A preparação deve ser madura e precisa de tempo. Não é um ato formal: é um Sacramento. Mas se deve preparar com um verdadeiro catecumenato.

A fidelidade, de fato, é um modo de ser, um estilo de vida. Trabalha-se com lealdade, fala-se com sinceridade, torna-se fiel à verdade nos próprios pensamentos, nas próprias ações. Uma vida tecida de fidelidade se exprime em todas as dimensões e leva a ser homens e mulheres fiéis e confiáveis em toda circunstância.

Mas para chegar a uma vida assim bela não basta a nossa natureza humana, é preciso que a fidelidade de Deus entre na nossa existência, nos contagie. Esta Sexta Palavra nos chama a dirigir o olhar a Cristo, que com a sua fidelidade pode tirar de nós um coração adúltero e nos doar um coração fiel. Nele, e somente Nele, há o amor sem reservas e repensamentos, a doação completa sem parênteses e a tenacidade do acolhimento até o fundo.

Da sua morte e ressurreição deriva a nossa fidelidade, do seu amor incondicional deriva a constância nas relações. Da comunhão com Ele, com o Pai e com o Espírito Santo deriva a comunhão entre nós e o saber viver na fidelidade as nossas relações.

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