O QUE NÃO DEVEMOS FAZER?
Em primeiro lugar queremos
explicar que aquele lugar, a entrada da Porta Santa, não é um local adequado
para uma oração coletiva, mas lugar de oração pessoal, onde cada um apresenta a
Deus a sua necessidade de misericórdia e o seu compromisso com a misericórdia
recebida. Uma oração coletiva, realizada em voz alta, atrapalha os demais
peregrinos que queiram fazer suas próprias orações.
A entrada pela Porta Santa é um
ato pessoal. E a oração comunitária apropriada nessa peregrinação é a
Celebração Eucarística. Certamente nada impede que os peregrinos que o
desejarem rezem o terço no interior da Basílica, ou da Igreja onde se vai em
peregrinação, mas que isso seja feito de forma a não atrapalhar ou impedir a
oração daqueles que desejam fazer suas orações pessoais. E que se respeite a
oração milenar do terço, rezando cada “Ave Maria” como foi idealizada, isto é, completa,
pois essa é uma oração meditativa, onde na primeira parte refletimos sobre as
maravilhas que Deus realizou em Maria; e a segunda parte é a súplica que
fazemos à Bem-Aventura e Santa Maria. Não há sentido em apenas dizer: Ave Maria
– Santa Maria
QUAL O SIGNIFICADO DA
PEREGRINAÇÃO?
A primeira coisa que devemos ter
em mente é que o Papa Francisco pede aos cristãos católicos que façam a
peregrinação, isto é, não saímos de casa de qualquer forma, para uma visita ou
uma viagem, saímos em oração. Na bula de convocação do Jubileu da Misericórdia
o Papa Francisco diz: “A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo,
enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência.
A vida é uma peregrinação e o ser
humano é viator (viajante), um peregrino que percorre uma estrada até à meta
anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos
outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma
peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a
alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há de servir
de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar
pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os
outros como o Pai o é conosco”.
COMO FAZER A PEREGRINAÇÃO?
Na verdade, a peregrinação do Ano
Santo da Misericórdia deve começar bem antes da nossa saída em direção à Igreja
na qual vamos atravessar a Porta Santa. Nossa peregrinação deve começar na
nossa própria comunidade, onde vivemos e nos relacionamos
O Papa Francisco, na Bula
Misericordiae Vultus, diz:
“O Senhor Jesus indica as etapas
da peregrinação através das quais é possível atingir esta meta: « Não julgueis
e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis
perdoados. Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada,
transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros
será usada convosco » (Lc 6, 37-38). Ele começa por dizer para não julgar nem condenar.
Se uma pessoa não quer incorrer no juízo de Deus, não pode tornar-se juiz do
seu irmão. É que os homens, no seu juízo, limitam-se a ler a superfície,
enquanto o Pai vê o íntimo. Que grande mal fazem as palavras, quando são
movidas por sentimentos de ciúme e inveja! Falar mal do irmão, na sua ausência,
equivale a deixá-lo mal visto, a comprometer a sua reputação e deixá-lo à mercê
das murmurações. Não julgar nem condenar significa, positivamente, saber
individuar o que há de bom em cada pessoa e não permitir que venha a sofrer
pelo nosso juízo parcial e a nossa pretensão de saber tudo. Mas isto ainda não
é suficiente para se exprimir a misericórdia. Jesus pede também para perdoar e
dar. Ser instrumentos do perdão, porque primeiro o obtivemos nós de Deus. Ser
generosos para com todos, sabendo que também Deus derrama a sua benevolência
sobre nós com grande magnanimidade” (MV 14).
Isso significa que antes de
iniciarmos a nossa peregrinação é preciso examinar bem qual a bagagem que
acumulamos durante a vida, de bom e de mau. Reconhecer que carregamos muita
coisa desnecessária e prejudicial à vivência da misericórdia e que se Deus tem
sido misericordioso conosco, nós não retribuímos da mesma forma, sendo
misericordiosos com nossos irmãos.
O Papa Francisco diz também:
“Com convicção, ponhamos
novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar
sensivelmente a grandeza da misericórdia. Será, para cada penitente, fonte de
verdadeira paz interior” (MV 17) E na catequese que o Papa fez na quarta-feira,
dia 16/12/2015) ele disse também:
“A Confissão é também outro sinal
importante do Jubileu. Aproximar-se deste Sacramento equivale a fazer
experiência direta da sua misericórdia. Deus nos compreende inclusive nos
nossos limites e contradições, e é ainda mais próximo de nós quando
reconhecemos os nossos pecados. Quando isso acontece, disse, “há festa no céu”.
Portanto, antes de nos dirigirmos para atravessar a Porta Santa é necessário
nos reconciliarmos com Deus e com os irmãos que por algum motivo foram magoados
por nossas palavras ou atitudes.
COMO ATRAVESSAR A PORTA SANTA?
Depois que estivermos preparados,
por meio da reconciliação com Deus e os irmãos, podemos partir para a
peregrinação física, isto é, fazer o caminho até a Igreja onde está aberta a
Porta Santa, mas esse deve ser um itinerário realizado com o propósito de irmos
ao encontro de Jesus, pois Ele é a Porta, como diz o Papa Francisco:
“A Porta indica o próprio Jesus
quando disse: ‘Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e
sairá e encontrará pastagem’.
Atravessar a Porta Santa é o
sinal da nossa confiança no Senhor Jesus que não veio para julgar, mas para
salvar. É sinal de uma verdadeira conversão do nosso coração, a salvação não se
paga, não se compra, é grátis, advertindo para quem eventualmente quiser cobrar
de algum fiel esta experiência. A Porta é Jesus, e Jesus é gratuito! Ao
atravessar a Porta, devemos manter escancarada também a porta do nosso coração,
para não excluir ninguém”.
Dessa forma, para atravessar a
Porta Santa é necessário estar disposto a assumir o compromisso com o perdão e
a misericórdia. Perdoar a si mesmo em primeiro lugar, pois quem não se perdoa
não consegue perdoar o outro. E perdoar aos irmãos. Em outro trecho da Bula
Misericordiae Vultus, o Papa Francisco diz:
“Neste Ano Santo, poderemos fazer
a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias
existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática.
Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual!
Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu
grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos.
Neste Jubileu, a Igreja
sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo
da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e
a atenção devidas.
Não nos deixemos cair na
indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de
descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver
as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria
dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda.
As nossas mãos apertem as suas mãos e
estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da
fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a
barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a
hipocrisia e o egoísmo.
É meu vivo desejo que o povo
cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia corporal e
espiritual. Será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes
adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do
Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina.
A pregação de Jesus apresenta-nos estas obras
de misericórdia, para podermos perceber se vivemos ou não como seus discípulos.
Redescubramos as obras de misericórdia corporal: dar de comer aos famintos, dar
de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência
aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras
de misericórdia espiritual: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes,
admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com
paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos” (MV 15)
Essas são as exigências para quem deseja entrar pela Porta da Misericórdia e
receber as graças e bênção de Deus com esse gesto, e receber também a
Indulgência concedida àqueles que cruzarem a Porta Santa da Misericórdia com
esses propósitos no coração.
Na Bula Misericordiae Vultus, diz
o Papa Francisco sobre a indulgência:
“O Jubileu inclui também o
referimento à indulgência. Esta, no Ano Santo da Misericórdia, adquire uma
relevância particular. O perdão de Deus para os nossos pecados não conhece
limites. Na morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus torna evidente este seu
amor que chega ao ponto de destruir o pecado dos homens.
É possível deixar-se reconciliar com Deus
através do mistério pascal e da mediação da Igreja. Por isso, Deus está sempre
disponível para o perdão, não Se cansando de o oferecer de maneira sempre nova
e inesperada. No entanto todos nós fazemos experiência do pecado. Sabemos que
somos chamados à perfeição (cf. Mt 5, 48), mas sentimos fortemente o peso do
pecado. Ao mesmo tempo que notamos o poder da graça que nos transforma,
experimentamos também a força do pecado que nos condiciona. Apesar do perdão, carregamos
na nossa vida as contradições que são consequência dos nossos pecados. No
sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente
apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos
comportamentos e pensamentos permanecem.
A misericórdia de Deus, porém, é
mais forte também do que isso. Ela torna-se indulgência do Pai que, através da
Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo
das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no
amor em vez de recair no pecado”.
Diante de tudo isso, o peregrino
poderá passar pela Porta Santa, apenas fazendo uma oração silenciosa, abrindo
seu coração à misericórdia do Pai. No dia da Abertura da Porta Santa na
Basílica de São Pedro, o Papa Francisco disse na homilia: “Este Ano
Extraordinário é dom de graça. Entrar por aquela Porta significa descobrir a
profundidade da misericórdia do Pai que a todos acolhe e vai pessoalmente ao
encontro de cada um.
É Ele que nos procura, é Ele que nos
vem ao encontro. Neste Ano, deveremos crescer na convicção da misericórdia. Que
grande injustiça fazemos a Deus e à sua graça, quando afirmamos, em primeiro
lugar, que os pecados são punidos pelo seu julgamento, sem antepor,
diversamente, que são perdoados pela sua misericórdia (cf. Santo Agostinho, De
praedestinatione sanctorum 12, 24)!
E assim é verdadeiramente.
Devemos antepor a misericórdia ao julgamento e, em todo o caso, o julgamento de
Deus será sempre feito à luz da sua misericórdia. Por isso, oxalá o cruzamento
da Porta Santa nos faça sentir participantes deste mistério de amor, de
ternura. Ponhamos de lado qualquer forma de medo e temor, porque não se coaduna
em quem é amado; vivamos, antes, a alegria do encontro com a graça que tudo
transforma”.
Depois que o peregrino cruzar esse limiar de
esperança e misericórdia, a peregrinação deverá prosseguir na participação da
Celebração Eucarística, da Ceia Santa que Jesus prepara para aqueles que
aceitam o seu convite.
Essa peregrinação não terminará
nesse dia, mas se estenderá por todo o ano, no dia a dia da nossa vida. O Ano
Santo da Misericórdia é um caminho de peregrinação ao encontro da misericórdia
que deverá transforma a nossa vida e a vida de todos os que estiverem à nossa
volta, contaminados pelo agir misericordioso de cada cristão católico.
Desejo a todos um ano de muita
misericórdia e conversão.