14 de jan. de 2016

PEREGRINAÇÃO ANO SANTO DA MISERICÓRDIA


O QUE NÃO DEVEMOS FAZER?

Em primeiro lugar queremos explicar que aquele lugar, a entrada da Porta Santa, não é um local adequado para uma oração coletiva, mas lugar de oração pessoal, onde cada um apresenta a Deus a sua necessidade de misericórdia e o seu compromisso com a misericórdia recebida. Uma oração coletiva, realizada em voz alta, atrapalha os demais peregrinos que queiram fazer suas próprias orações.
A entrada pela Porta Santa é um ato pessoal. E a oração comunitária apropriada nessa peregrinação é a Celebração Eucarística. Certamente nada impede que os peregrinos que o desejarem rezem o terço no interior da Basílica, ou da Igreja onde se vai em peregrinação, mas que isso seja feito de forma a não atrapalhar ou impedir a oração daqueles que desejam fazer suas orações pessoais. E que se respeite a oração milenar do terço, rezando cada “Ave Maria” como foi idealizada, isto é, completa, pois essa é uma oração meditativa, onde na primeira parte refletimos sobre as maravilhas que Deus realizou em Maria; e a segunda parte é a súplica que fazemos à Bem-Aventura e Santa Maria. Não há sentido em apenas dizer: Ave Maria – Santa Maria

QUAL O SIGNIFICADO DA PEREGRINAÇÃO?

A primeira coisa que devemos ter em mente é que o Papa Francisco pede aos cristãos católicos que façam a peregrinação, isto é, não saímos de casa de qualquer forma, para uma visita ou uma viagem, saímos em oração. Na bula de convocação do Jubileu da Misericórdia o Papa Francisco diz: “A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência.
A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator (viajante), um peregrino que percorre uma estrada até à meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é conosco”.

COMO FAZER A PEREGRINAÇÃO?

Na verdade, a peregrinação do Ano Santo da Misericórdia deve começar bem antes da nossa saída em direção à Igreja na qual vamos atravessar a Porta Santa. Nossa peregrinação deve começar na nossa própria comunidade, onde vivemos e nos relacionamos

O Papa Francisco, na Bula Misericordiae Vultus, diz:

“O Senhor Jesus indica as etapas da peregrinação através das quais é possível atingir esta meta: « Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco » (Lc 6, 37-38). Ele começa por dizer para não julgar nem condenar. Se uma pessoa não quer incorrer no juízo de Deus, não pode tornar-se juiz do seu irmão. É que os homens, no seu juízo, limitam-se a ler a superfície, enquanto o Pai vê o íntimo. Que grande mal fazem as palavras, quando são movidas por sentimentos de ciúme e inveja! Falar mal do irmão, na sua ausência, equivale a deixá-lo mal visto, a comprometer a sua reputação e deixá-lo à mercê das murmurações. Não julgar nem condenar significa, positivamente, saber individuar o que há de bom em cada pessoa e não permitir que venha a sofrer pelo nosso juízo parcial e a nossa pretensão de saber tudo. Mas isto ainda não é suficiente para se exprimir a misericórdia. Jesus pede também para perdoar e dar. Ser instrumentos do perdão, porque primeiro o obtivemos nós de Deus. Ser generosos para com todos, sabendo que também Deus derrama a sua benevolência sobre nós com grande magnanimidade” (MV 14).

Isso significa que antes de iniciarmos a nossa peregrinação é preciso examinar bem qual a bagagem que acumulamos durante a vida, de bom e de mau. Reconhecer que carregamos muita coisa desnecessária e prejudicial à vivência da misericórdia e que se Deus tem sido misericordioso conosco, nós não retribuímos da mesma forma, sendo misericordiosos com nossos irmãos.
O Papa Francisco diz também:

“Com convicção, ponhamos novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia. Será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior” (MV 17) E na catequese que o Papa fez na quarta-feira, dia 16/12/2015) ele disse também:
“A Confissão é também outro sinal importante do Jubileu. Aproximar-se deste Sacramento equivale a fazer experiência direta da sua misericórdia. Deus nos compreende inclusive nos nossos limites e contradições, e é ainda mais próximo de nós quando reconhecemos os nossos pecados. Quando isso acontece, disse, “há festa no céu”. Portanto, antes de nos dirigirmos para atravessar a Porta Santa é necessário nos reconciliarmos com Deus e com os irmãos que por algum motivo foram magoados por nossas palavras ou atitudes.

COMO ATRAVESSAR A PORTA SANTA?

Depois que estivermos preparados, por meio da reconciliação com Deus e os irmãos, podemos partir para a peregrinação física, isto é, fazer o caminho até a Igreja onde está aberta a Porta Santa, mas esse deve ser um itinerário realizado com o propósito de irmos ao encontro de Jesus, pois Ele é a Porta, como diz o Papa Francisco:

“A Porta indica o próprio Jesus quando disse: ‘Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem’.
Atravessar a Porta Santa é o sinal da nossa confiança no Senhor Jesus que não veio para julgar, mas para salvar. É sinal de uma verdadeira conversão do nosso coração, a salvação não se paga, não se compra, é grátis, advertindo para quem eventualmente quiser cobrar de algum fiel esta experiência. A Porta é Jesus, e Jesus é gratuito! Ao atravessar a Porta, devemos manter escancarada também a porta do nosso coração, para não excluir ninguém”.

Dessa forma, para atravessar a Porta Santa é necessário estar disposto a assumir o compromisso com o perdão e a misericórdia. Perdoar a si mesmo em primeiro lugar, pois quem não se perdoa não consegue perdoar o outro. E perdoar aos irmãos. Em outro trecho da Bula Misericordiae Vultus, o Papa Francisco diz:

“Neste Ano Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos.

Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas.
Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda.

 As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo.
É meu vivo desejo que o povo cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia corporal e espiritual. Será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina.

 A pregação de Jesus apresenta-nos estas obras de misericórdia, para podermos perceber se vivemos ou não como seus discípulos. Redescubramos as obras de misericórdia corporal: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras de misericórdia espiritual: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos” (MV 15) Essas são as exigências para quem deseja entrar pela Porta da Misericórdia e receber as graças e bênção de Deus com esse gesto, e receber também a Indulgência concedida àqueles que cruzarem a Porta Santa da Misericórdia com esses propósitos no coração.

Na Bula Misericordiae Vultus, diz o Papa Francisco sobre a indulgência:

“O Jubileu inclui também o referimento à indulgência. Esta, no Ano Santo da Misericórdia, adquire uma relevância particular. O perdão de Deus para os nossos pecados não conhece limites. Na morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus torna evidente este seu amor que chega ao ponto de destruir o pecado dos homens.

 É possível deixar-se reconciliar com Deus através do mistério pascal e da mediação da Igreja. Por isso, Deus está sempre disponível para o perdão, não Se cansando de o oferecer de maneira sempre nova e inesperada. No entanto todos nós fazemos experiência do pecado. Sabemos que somos chamados à perfeição (cf. Mt 5, 48), mas sentimos fortemente o peso do pecado. Ao mesmo tempo que notamos o poder da graça que nos transforma, experimentamos também a força do pecado que nos condiciona. Apesar do perdão, carregamos na nossa vida as contradições que são consequência dos nossos pecados. No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanecem.

A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela torna-se indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado”.

Diante de tudo isso, o peregrino poderá passar pela Porta Santa, apenas fazendo uma oração silenciosa, abrindo seu coração à misericórdia do Pai. No dia da Abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco disse na homilia: “Este Ano Extraordinário é dom de graça. Entrar por aquela Porta significa descobrir a profundidade da misericórdia do Pai que a todos acolhe e vai pessoalmente ao encontro de cada um.

É Ele que nos procura, é Ele que nos vem ao encontro. Neste Ano, deveremos crescer na convicção da misericórdia. Que grande injustiça fazemos a Deus e à sua graça, quando afirmamos, em primeiro lugar, que os pecados são punidos pelo seu julgamento, sem antepor, diversamente, que são perdoados pela sua misericórdia (cf. Santo Agostinho, De praedestinatione sanctorum 12, 24)!
E assim é verdadeiramente. Devemos antepor a misericórdia ao julgamento e, em todo o caso, o julgamento de Deus será sempre feito à luz da sua misericórdia. Por isso, oxalá o cruzamento da Porta Santa nos faça sentir participantes deste mistério de amor, de ternura. Ponhamos de lado qualquer forma de medo e temor, porque não se coaduna em quem é amado; vivamos, antes, a alegria do encontro com a graça que tudo transforma”.

 Depois que o peregrino cruzar esse limiar de esperança e misericórdia, a peregrinação deverá prosseguir na participação da Celebração Eucarística, da Ceia Santa que Jesus prepara para aqueles que aceitam o seu convite.

Essa peregrinação não terminará nesse dia, mas se estenderá por todo o ano, no dia a dia da nossa vida. O Ano Santo da Misericórdia é um caminho de peregrinação ao encontro da misericórdia que deverá transforma a nossa vida e a vida de todos os que estiverem à nossa volta, contaminados pelo agir misericordioso de cada cristão católico.


Desejo a todos um ano de muita misericórdia e conversão.

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