“No suor dos teus dias, usa a
oração sem mostrá-la. Na oração falas com Deus, no serviço Deus te fala”. A
oração faz parte da espiritualidade. Porém, não é a mesma coisa que
espiritualidade. Esta é mais do que a oração. Podemos fazer oração, mas não
termos espiritualidade. É o caso da oração que separa fé e vida, que se isola
da história. Torna-se oração descomprometida com a vida, oração sem a presença
e a abertura verdadeira para Deus. A oração para ser parte da espiritualidade
deve ser vivida, testemunhada. Ela deve criar uma relação amorosa com Deus, uma
intimidade. É a oração que vai alimentar, nutrir e fortalecer a
espiritualidade. Para melhor entendermos, vale lembrar a analogia do amor
conjugal que a Bíblia tanto usa. A autenticidade dos momentos de especial
intimidade do casal humano, como expressão de amor, depende muito de como eles
vivem o ritmo mais comum e permanente da vida a dois. Beijo de gente que se ama
vinte e quatro horas por dia, é diferente de quem busca o outro apenas para uma
satisfação passageira. Seria muito estranho se o casal dispensasse momentos de
maior intimidade com desculpas do tipo: “Não precisa! Já moramos juntos na
mesma casa. Estamos cansados de saber que nos queremos bem”... Ora, que quem
entra por este caminho acaba esfriando e esvaziando o relacionamento conjugal.
O amor vai definhando por falta de gestos concretos de carinho e reciprocidade.
Assim também ocorre com a oração. Somente uma vida de oração pode dar
consistência aos momentos específicos de intimidade com Deus. A oração é o
combustível para a dinâmica do encontro permanente com Deus e da leitura da sua
presença nas mais diferentes situações. Para o teólogo Marcelo de Barros, a
oração é uma experiência integradora: “cuidar da oração é olhar de novo a raiz
de nossa vida, de nossas opções e trabalhos e garantir a saúde da árvore
inteira”. Importante é perceber a oração como experiência de amor. Ela, como
diz Santa Teresa de Jesus, “não é nada mais do que um íntimo relacionamento de
amizade a sós com aquele que nos ama”. O caminho da espiritualidade supõe
esforço, exercício (ascese), uma certa disciplina, porque a oração não é algo
instintivo, que nos vem de dentro. Ela exige seu tempo, seu lugar. Se não se
impõe certa disciplina, a oração acaba sendo prejudicada. Daí a importância de
abrimos espaços permanentes na nossa prática pastoral para esse encontro
pessoal e profundamente com Senhor (encontro também comunitário). Momento para
a pessoa se trabalhar, penetrar na profundidade do mistério. Temos que nos
sentir “seduzidos” pela profundidade do encontro, e reviver a experiência de
Jeremias: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7).
Espiritualidade e imagens de Deus
Não é difícil perceber como o
nosso jeito de ser, de rezar, de interpretar os fatos está intimamente ligado a
imagem de Deus que cultivamos. Sabemos que qualquer idéia ou definição de Deus
será sempre incompleta, imperfeita, parcial. Por isso temos Jesus, revelação do
Pai. Muitas vezes nossas atitudes deixam de revelar um Deus-Amor e Misericórdia
e acabam por imprimir uma imagem de um Deus severo, juiz e castigador. A
experiência e a imagem que temos de Deus pode influenciar determinantemente a
experiência e a imagem que nossos catequizandos podem ter de Deus. Um
discernimento constante nos ajudaria a perceber nossas reais motivações para a
vivência de nossa espiritualidade. Sempre cabe perguntar: Isto que estou
fazendo ou sentindo, apontam para que tipo de imagem de Deus?
Espiritualidade é:
• É descobrir
a providência divina nas dificuldades diárias;
• Desde a
alegria de ter nascido até a respiração que faço agora;
• É sentir
Deus no abraço de uma criança;
• É ir dormir
morrendo de cansaço, mas feliz por ter sentido Deus no serviço ao outro;
• É ver
noticiários de pessoas que fazem algo bom e se alegrar com isso;
• É perguntar:
Senhor, o que queres que eu faça?Essa imagem é a do Deus revelado por Jesus ou
é o retrato distorcido daquilo que Deus é em sua essência?
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